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quinta-feira, dezembro 08, 2005

Prof Allan Rangel Barros de Oliveira Barros

Prof Allan Rangel Barros de Oliveira Barros

Web 2.0: a nova internet é uma plataforma

Os empreendimentos na internet que deram certo pensam na web como uma plataforma, não como uma simples rede de computadores. Entenda esse novo conceito e o reconheça bem perto de você.

Quando ouvimos a pergunta "o que é internet?" a resposta está na ponta da língua: "é a rede mundial de computadores". Bem, a partir da Web 2.0 Conference , a internet deixou de ser uma rede mundial de computadores e se tornou uma plataforma.

Não, não... Nada mudou... A internet em si continua a mesma. O que mudou foi o nosso jeito de entendê-la, a partir do exame dos projetos de internet que deram certo.

Quando a internet começou – esta é a Web 1.0 – ela era feita de sites que publicavam conteúdo. Era uma forma digital de fazer exatamente a mesma coisa que a mídia impressa já fazia há séculos.

Com o amadurecimento da internet, as pessoas começaram a perceber que ela é muito mais que simplesmente publicação de conteúdo em sites. Percebemos que a internet poderia ser um meio de prestar serviços. Estes serviços são prestados através de programas. Estes programas rodam em uma plataforma: a própria internet.

Esta idéia de internet como plataforma é a essência da web 2.0. Embora a conferência realizada nos EUA tenha como objetivo rever a internet, em todo o material que eu li sobre isso não vi um trabalho para reconceituar a internet. Eu penso que isso seja essencial para entendermos a web 2.0.
Outro conceito para internet.

É necessário dar outro conceito à web, diferente de "rede de computadores". Eu sugiro o seguinte:

“A internet é uma plataforma onde rodam programas de gestão de informações”.

É só uma sugestão inicial para começar a discussão, a nossa discussão, sobre o que é a nova internet. É um conceito muito menos glamuroso que "a rede das redes" ou "rede mundial de computadores", mas é mais funcional, de acordo com os conceitos e objetivos da web 2.0.

Para entender este conceito vamos dividi-lo em três partes:
A internet é uma plataforma...

O que é uma plataforma? Talvez não seja o melhor, mas o mais popular exemplo é o Windows. De forma bem simples e superficial, a plataforma é o lugar onde os programas existem. Ela dá os elementos que os programas precisam para existir.

Como me ensinou meu amigo Eduardo Rosa, com toda didática e paciência que lhe é peculiar: se o software fosse um cachorrinho, a plataforma seria a casinha onde ele fica, a água e a comida, é tudo que ele precisa para existir.

No caso do Windows, por exemplo, a janela é o Windows que faz; o que está dentro dela é o programa que faz. Quem diz o que deve ser impresso é o programa, quem manda a informação para a impressora é o Windows, a plataforma. A internet é assim: um lugar, um ambiente, a plataforma.

Entender profundamente o que é plataforma, o conceito em si, é coisa para os cientistas da computação, mas a internet como plataforma é coisa para todos que se envolvem com ela. Portanto, vamos prosseguindo.
...onde rodam programas

Eu ainda me lembro como era legal poder ir tomar um café, conversar com uns amigos e ir ao banheiro enquanto eu esperava o Word abrir. Bons tempos aqueles em que o Word não abria quase instantaneamente como acontece hoje.

Um processador de texto, hoje, realmente não demanda muito processamento. Justamente por esta razão estão aparecendo serviços na web que fazem isso tão bem quanto ou melhor que os programas locais.

O melhor exemplo é o Writely. Mesmo tendo o Open Office instalado aqui em casa, eu estou usando o Writely. Isso porque com ele eu posso acessar ou editar este artigo de qualquer lugar do mundo, chamar pessoas para colaborar, publicar (com somente um clique) no meu blog, entre outras funcionalidades que só existem porque o programa está rodando na internet como plataforma.

Muito se tem dito, e eu mesmo disse, sobre Ajax (veja ao lado). Mas o Ajax é só um filho deste novo conceito de internet. O Ajax existe para viabilizar a existência de programas que têm a internet como plataforma. A mesma coisa com o RIA. É impossível, ou inútil, entender o que é Ajax sem pensar na web como plataforma.

Não é à toa que a Microsoft está fazendo o Atlas, uma ferramenta para ajudar os desenvolvedores a trabalhar com Ajax. Ela sabe que o futuro da internet são programas e serviços. E ela mesma está correndo atrás do prejuízo e fazendo todo tipo de investimento em programas na internet (os estadunidenses gostam de chamá-los de "live software").

Qualquer site, na verdade, é um programa de computador. Mas mesmo sabendo disso, durante toda a era da web 1.0 (e a maioria de nós ainda estamos nesta era) os desenvolvedores fizeram programas para mostrar páginas de conteúdo, copiando a mídia impressa. Eles não perceberam que a web dá muito, muito, muito mais recursos de gerenciamento de informações que uma revista ou livro.

Na web 2.0 o usuário não somente lê a informação.
Ele envia informações ao software que poderão ser lidas por outros usuário (comentários em matérias, scrapbook do orkut, blog, fotolog etc), ele pega as informações para usar para outros fins em outros softwares (clipping de uma notícia em um blog), ele transforma a informação (Wikipedia), ele exibe e recebe a informação do jeito que ele quiser (RSS, XSL, newsletter), ele compartilha informações instantaneamente (Messenger), enfim, o único limite que existe para o usuário interagir com o conteúdo é a nossa criatividade.

Seria bom parar de pensar em criar um site e começar a pensar livremente num programa que entregue ao usuário a informação de uma forma eficiente.
...de gestão de dados

O buscador do Google é um programa fantástico. Ele tem recursos de avaliação de sites que mostram os resultados conforme a relevância, é muito rápido, é multimídia, etc., etc... Mas pense comigo: o que ele seria sem o banco de dados que tem? Como diria o Caetano Veloso, ele seria a superfície iridescente da bola oca. Seria uma coisa fantástica e maravilhosa, mas completamente inútil e sem sentido.

Sobre isso, Tim O'Reilly diz, na sua explicação sobre web 2.0 : "O valor de um programa é proporcional ao tamanho e dinamismo do conteúdo que ele ajuda a administrar".

Os estadunidenses da Web 2.0 estão repetindo bastante: content is king. Realmente eles estão certos, o conteúdo é o rei da nova internet.

Para entender a internet como plataforma é necessário separar o que é a informação do que é o software. Para começar um empreendimento web as pessoas deveriam se fazer duas perguntas:

1) Que tipo de dados nós vamos ter? E então fazer estratégias para adquirir estes dados, aproveitando todos os recursos que a internet dá, inclusive os usuários que freqüentam o site.

2) Como vamos mostrar estes dados ao usuário? E então desenvolver programas para mostrar os dados, preferencialmente sem predefinir um comportamento para o usuário mas fazendo o software de forma que o usuário possa modificá-lo e receber somente a informação que ele quiser, do jeito que ele quiser
Dados têm valor

Eu me lembro de ter o maior orgulho de montar meu próprio computador, comprando cada peça, e depois colar o adesivinho "Intel inside" e "Asus", para dizer que meu computador era o máximo. Na internet 2.0 esses adesivinhos serão dados.

Um bom exemplo disso é o Maplink . Ele usa o software do Google Maps para mostrar fotos de satélite da região que você está procurando (e isso por si só já é um ótimo exemplo de internet como plataforma). Mas o Google Maps, por sua vez, não tem os dados, não é o dono das fotos de satélite, o dono –no caso do lugar onde eu estava olhando – chama-se Digital Globe. Veja só, a Digital Globe nem oferece o software que eu estava usando, ela só tem os dados.

No futuro, este tipo de negócio será muito comum e muito lucrativo. Uma empresa se especializa em ter os dados. A outra compra a base de dados, faz o seu próprio software para entregar esses dados de forma eficiente ao usuário e vende o serviço.

Se o nosso modo de pensar em internet for separando o que é o dado do que é o programa que o exibe, a experiência do usuário se torna muito mais rica. O Google leva isso tão a sério que criou o Google Base . O Google Base é o seguinte: se determinado dado não está em nenhum site na internet, qualquer um pode inseri-lo diretamente na base de dados do Google e assim esse dado poderá ser encontrado numa busca sem estar em nenhum site.

Mas pense grande, dados não são apenas textos e artigos. No Orkut (e agora também no Uolkut) por exemplo, o dado principal é o perfil de uma pessoa que se conecta com o perfil de outra. No mesmo Orkut há as comunidades, que ainda que não tenham nenhum conteúdo (algumas têm fóruns muito bons, outras nem têm fórum) são dados importantes por serem uma reunião de perfis. Num Fotolog ou no Flickr, o dado são as fotos. No Itunes ou na Rádio UOL os dados são as músicas.
Então a internet vai substituir o desktop?

Muita gente já pensou em fazer computadores que não tenham nada instalado localmente, os chamados terminais burros. Seriam computadores que só rodariam serviços a partir de um servidor. Mas, pelo que se pode perceber por aí, isso ainda está fora de cogitação. Programas pesados como o Photoshop e o 3D Studio e jogos como Half Life 2, provavelmente jamais serão totalmente web.

É claro que a capacidade dos computadores continuará aumentando loucamente, mas a necessidade de processamento dos programas e games está aumentando proporcionalmente. Portanto, pelo menos nos próximos tempos, desktop e web continuarão vivendo juntos, cada um no seu lugar.

Mas a internet pode ser a plataforma que conecta os games para jogos online, que traz extensões e plugins a programas locais, e por aí vai. Cada plataforma na sua especialidade, mas elas jamais estarão totalmente separadas novamente – principalmente depois do Windows Vista .
Em vez de rede de redes, plataforma de plataformas.

O mais interessante é que a internet não é somente uma plataforma, é a plataforma das plataformas.

Complicou? Vou tentar explicar. O Google tem um excelente software que faz busca. Usando esta função ele pôde fazer do Gmail um programa de e-mail com uma busca realmente competente e fácil, tão boa que você nem precisa mais ordenar seus e-mails por nome ou por bytes ou por qualquer outra coisa, basta fazer uma busca e você acha o que quer.

O Google tem muitos programas e todos eles, além de viverem na plataforma que é a web, vivem na plataforma que é o Google, com funções compartilhadas aos vários programas que ele tem e com interatividade entre os programas, serviços e modelos de negócio. Por exemplo, o messenger Google Talk pega automaticamente a sua lista de contatos do Gmail.

Outro bom exemplo é o Yahoo. O Yahoo tem muitos serviços e programas. Eles criaram um serviço, o 360º , para consolidar em um só ambiente (ou plataforma), os vários programas como Yahoo Groups, E-mail, Blog, Fotolog, etc.

Assim o Google é uma plataforma, o Yahoo outra plataforma, os serviços da Microsoft outra plataforma, os do UOL outra... E cada plataforma tem individualmente o mesmo potencial de crescimento que a própria internet.

Pensando assim, na internet como uma plataforma onde rodam programas de gestão de informações, e não em uma rede de computadores ou um lugar onde se fazem simples publicações, os desenvolvedores, designers, publicitários e empreendedores envolvidos com a internet terão muito mais resultados.

Há muito, muito mais a se falar sobre este assunto (a nova internet), mas como eu acho que nem todo mundo vai chegar até este parágrafo, porque este artigo já está muito grande e a paciência das pessoas não costuma ser assim tão grande, eu vou parando por aqui.

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